Para lavar o dinheiro do tráfico de cocaína, que saía da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e chegava até o Rio Grande do Sul, quadrilha familiar simulava a venda de milho e soja. Alvos da Operação Geminus da Polícia Federal, presos em dezembro de 2021, tios e sobrinhos chegaram a simular a venda de 20 mil toneladas de grãos em quatro anos.
Nas investigações, foi apurado que Nelson Ormai Rodrigues e a esposa, Leonor Cristina da Silva Cunha Rodrigues, junto com os sobrinhos gêmeos, Alex Teixeira Rodrigues e Alan Teixeira Rodrigues, declaravam atividade em média escala de agricultura. No entanto, imagens aéreas das propriedades rurais mostram que, entre 2009 e 2020, não há histórico de cultivo de lavouras.
Mesmo assim, entre 2015 e 2019, a família declarou a venda de grãos a uma empresa que seria laranja do esquema criminoso. Foram 20 mil toneladas de grãos declarados — avaliados em R$ 15 milhões — mas, curiosamente, nenhuma transação bancária entre a empresa e os investigados foi encontrada no período indicado. Os quatro acusados foram presos em Mato Grosso do Sul, onde tinham as terras.
A investigação também identificou que, entre 2009 e 2013, o ritmo de lavagem de dinheiro do grupo era ‘médio’, enquanto nos anos seguintes, de 2014 a 2019, houve um ritmo acelerado. Entre 2009 e 2019, o patrimônio do núcleo familiar passou de R$ 335 mil para mais de R$ 11,881 milhões.
Transporte da cocaína
De acordo com a delegada da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, Aletea Vega Marona Kunde, o grupo movimentou 5 toneladas de cocaína no período de um ano. A droga era levada de MS para o RS em compartimentos ocultos em caminhões. Da mesma forma, os veículos voltavam com grandes quantidades de dinheiro escondidas.
O dinheiro era ‘lavado’ com empresas de fachada, bem como ‘laranjas’. Ainda segundo a delegada, o grupo também lavava dinheiro com a produção de gado, bem como com uma empresa de transporte e outra de locação de equipamentos para construção. As empresas funcionavam apenas para transitar os recursos e simular riqueza lícita.
Conforme a delegada, o grupo até mesmo simulava a produção inexistente de grãos, com a empresa de agronegócio. Além do casal e dos sobrinhos, que são lideranças da organização criminosa, outros familiares também atuavam como ‘laranjas’. A estimativa é de que os bens apreendidos na ação foram avaliados em R$ 50 milhões.
Operação Geminus
Em MS, foram cumpridos mandados em Dourados, Ponta Porã, Maracaju e Deodápolis. Ao todo, são 5 mandados de prisão no Estado e 17 de busca e apreensão. Foram cumpridos, ao todo, 11 mandados de prisão preventiva e 29 de busca e apreensão, além do sequestro de 52 imóveis e 70 veículos, entre automóveis, jet skis, caminhões, carretas e tratores, e o bloqueio de valores em contas bancárias de 33 pessoas físicas e jurídicas envolvidas.
A investigação apurou que organização criminosa, comandada por núcleo familiar estabelecido nos municípios de Deodápolis (MS) e Viamão (RS), utilizava o agronegócio e outras atividades econômicas formais como fachada para ocultar os valores obtidos com o tráfico internacional de drogas, principalmente de cocaína.