Chega a ser difícil contabilizar todas as ocorrências sinistras registradas nas duas principais cachoeiras de Campo Grande. Batizadas de “Ceuzinho” e “Inferninho”, os nomes ganharam peso da ironia diante de tantas “desovas” de corpos e homicídios. Na zona rural da cidade, uma fica depois da outra, na saída para Rochedo. Quem mora na vizinhança conta que a coragem só aparece mesmo com a fé na “ajuda celestial”.
A região tem mais espaços industriais, mas também muitas chácaras, recantos e estâncias que se distribuem pelas 2 áreas. Nesses locais os relatos são de cenas de carros queimados, homens ensanguentados pedindo socorro e histórias sobre gente enterrada.
Desde maio, 3 corpos foram encontrados na Cachoeira do Inferninho. Por coincidência, o mesmo número registrado no Ceuzinho.
Acostumada em acionar bombeiros e polícia, moradora que preferiu não se identificar conta que só enxerga proteção real vindo de duas imagens religiosas.
Aos 55 anos, ela narra que os problemas variam entre lixo deixado nos arredores das cachoeiras, discussões com facadas e acerto de contas. “A gente fica com medo, mas se eles saem de lá e aparecem pedindo socorro não tem o que fazer, precisamos dar ajuda”, disse.
Sem precisar puxar muito na memória, a mulher diz que nos últimos fins de semana a região recebeu homem com ferimentos de faca abandonado na estrada e outro ensanguentado sem explicação. “Às vezes bate um desespero e pensamento de que quero ir embora daqui porque chega uma hora que cansa de tanta coisa assim acontecendo”.
Cansada dos problemas com aparições indesejadas, a moradora relata o mal uso das cachoeiras. “Tem gente que vira a noite por ali e você nunca sabe o que estão fazendo. Droga, tiro, música alta, tem tudo isso e muito mais. Isso que ali no Ceuzinho é área de Energisa, nem poderia ter gente”.
Ainda conseguindo ser pior do que a realidade, a imaginação sobre os arredores da região leva até mitos de corpos enterrados por ali, sob o solo da área na saída para Rochedo. É como se fosse impossível, até em sonho, superar o histórico de ocorrências policiais nas proximidades da água.
Narrativa de sangue – Relembrando apenas ocorrências recentes que chamaram atenção nas cachoeiras, o histórico envolve homem pedindo socorro cuspindo sangue, corpos encontrados e briga com esfaqueamento.
A última informação noticiada pelo Campo Grande News foi no dia sete de novembro, quando Elison Brites, de 24 anos, foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros Militar. O jovem entrou em chácara da região “vomitando sangue” com sinais de espancamento e riscos de faca. Já em setembro, um corpo foi encontrado no Inferninho sem sinais de violência. O cadáver foi localizado caído em penhasco que fica na entrada da cachoeira.
No mesmo mês, Ronaldo Nepomuceno Neves, de 48 anos, foi morto e teve o corpo carbonizado na região da Cachoeira do Ceuzinho após briga dentro de boate no Bairro Cabreúva.