Mulher diz que casa estava sem relógio de energia porque o marido retirou objeto. Ela diz ainda que arriscou a própria vida para salvar a criança, antes da chegada dos bombeiros.
Em 6 minutos de conversa por telefone, enquanto permanece internada na Santa Casa com queimaduras de 1° grau no rosto e pescoço, a pastora Rosimeire Aparecida de Mello, de 53 anos, relembra os momentos de pânico que viveu na manhã dessa quinta-feira (27), na casa dela no bairro Central Park, em Campo Grande, após incêndio que resultou na morte de uma menina de 3 anos, além de outras 3 pessoas feridas.
“Meu marido tinha um ciúme possessivo, doentio. Eu estou com ele faz 4 anos e estava morando naquela casa há alguns dias, apenas com a minha secretária, a filha dela e a minha filha. Ele, porém, estava ficando na chácara, mas, tinha a chave de lá. Desde que a minha funcionária soube de uns casos relacionados a ele, passou a ser perseguida e inclusive ameaçada de morte”, afirmou Rosemeire.
Segundo a vítima, ela estava em processo de separação com o marido. “Ele já me bateu no rosto, deu murro e eu perdoei. Até que comecei a denunciar e ele foi condenado pela lei Maria da Penha. A violência dele é tão grande que cortou o cabelo dela [funcionária], a seguiu e apontou o dedo como se estivesse com uma arma. Isto faz poucos dias e ele chegou em casa desesperada. Ele não queria ninguém perto de mim e chegou a queimar recentemente todas as minhas roupas com água de bateria”, lamentou.
Ainda conforme Rosimeire, a casa estava sem o relógio de energia porque o marido retirou o objeto de lá. “O vizinho gentilmente é quem cedeu um ponto e posso garantir que apenas a geladeira estava ligada. Todos os demais aparelhos estavam fora da tomada. Pouco tempo antes, escutei um barulho no telhado, porém parecia uma pedra, então voltei a dormir. Depois, quando acordei, a fumaça já estava tomando conta e cegou todo mundo”, contou.
Menina de 3 anos morreu após incêndio em Campo Grande; outras 3 pessoas ficaram feridas — Foto: Arquivo Pessoal
Com as chamas altas, Rosimeire fala que a primeira atitude foi procurar a chave e abrir a casa . “Nós tínhamos trancado tudo, principalmente por conta das ameaças dele, inclusive colocando ferrinhos. Mas a gente não achava, a fumaça nos cegou mesmo e então minha filha escapou pela janela, a mãe da criança também e eu continuei lá gritando por ela. Só que ela já tinha desmaiado e eu estava prestes a desfalecer também, quando saí pela janela e chegou os bombeiros”, explicou.
Segundo Rosimeire, o marido é suspeito deste fato. “Eu escutei barulhos no telhado e acredito que ele jogou algo lá e ateou fogo. Existem vários boletins de ocorrência contra ele e agora eu quero Justiça. Tudo estava fora da tomada e o que ele fez acabou com tudo em 15 minutos. Ele chegou a me escrever carta, dizendo que eu não ficaria com mais ninguém e me obrigava a manter relação sexual”, finalizou.
Queimaduras
Rosimeire permanece internada sob observação, já que teve as vias respiratórias afetadas. A filha dela, de 11 anos, é a que está menos lesionada, de acordo com a assessoria de imprensa do hospital. Já a vítima de 29 anos – mãe da criança de 3 anos que morreu ontem – teve queimaduras de 2° grau na face, mãos, pés e vias respiratórias. Ela permanece na área vermelha, internada pela cirurgia plástica e clínica médica da Santa Casa.
Investigação
O delegado Sérgio Luiz Duarte, responsável pela investigação, diz que 3 pessoas foram ouvidas até o momento, sendo o vizinho da vítima que emprestou o cabo de energia e mais 2 pessoas que ajudaram no scorro. Além disto, outras pessoas que presenciaram a cena também serão acionadas no decorrer do inquérito policial. Até o momento, o delegado fala que não vê indícios de incêndio criminoso, porém ainda não descartou esta hipótese.
Bombeiro se arriscou
A viatura Auto Bomba Tanque – ABT 49 – do Corpo de Bombeiros mal estacionou quando o sargento Theodulo de Pádua ouviu gritos e pedidos de socorro: “Tem criança lá dentro”. “A menina está no quarto”. O raciocínio então foi descer correndo e pedir para apontarem o quarto onde a vítima estava. Ele entrou e não encontrou a menina, retornou para um rápido fôlego e foi para o outro quarto, retirando a pequena que “estava deitada de lado e já com a pupila dilatada”.
“Eu a encontrei inconsciente, nem pensei duas vezes no que fazer quando ouvi os pedidos de socorro. Antes de tudo, sou ser humano e pai de 3 filhos. Infelizmente, não teve outro jeito”, disse emocionado, em frente ao imóvel incendiado.
Entenda o caso
Uma menina de três anos que faria aniversário nesta quinta-feira (27) morreu e outras três pessoas ficaram feridas em incêndio em uma residência, no bairro Central Park, em Campo Grande. A polícia suspeita que o fogo tenha sido criminoso, pois, testemunhas contaram que o ex-marido da moradora já teria feito ameças a ela.
O corretor de imóveis Silvio Hikawa é vizinho da residência das vítimas e foi o primeiro a chegar. Segundo ele, a dona da casa é uma pastora e pedia socorro. “Gritava: pelo amor de Deus, tem criança lá dentro”.
Para entrar no imóvel, Hikawa pulou o muro e quebrou um cadeado. Ele teve ajuda de um outro vizinho. Ferida, a pastora havia saído da casa pulando uma janela.