Nos pés chuteiras um tanto sujas de lama, assim como os meiões logo acima. Sinais claros de que estamos falando de jogadores de futebol. Já nas mãos, calos e bolhas típicos de quem não se omite do trabalho pesado diariamente. À minha frente jovens que sonham com um futuro promissor, e aqui em nosso solo querem começar essa trilha.
O futebol é o caminho escolhido por Felipe e Virlan, que nos gramados cercados por quatro linhas de cal querem construir uma carreira e oferecer algo melhor à família, principais responsáveis em apoia-los na busca por esse sonho futebolístico.
Contudo, nem sempre se pode depender só dele, do futebol. Daí, a vida se divide entre a bola e a enxada: se de manhã o tempo desses garotos é todo dedicado aos treinos no Esporte Clube Comercial, à tarde eles se dedicam a outros trabalhos, seja carregando mudanças ou carpindo quintais e cortando gramas pela cidade.
“Terminamos o Ensino Médio e agora até penso em fazer uma faculdade online, mas o sonho agora é o futebol. Enquanto isso, trabalhamos juntos fazendo bicos ajudando meu pai, que tem um caminhão de mudanças, ou meu avô, que é jardineiro”, explica o jovem Felipe Mohr, de 20 anos, lateral-esquerdo.
O Comerário deste domingo (29) dá início definitivo ao sonho de Felipe e Virlam de vingarem no futebol. Logo de cara, um clássico contra o maior rival, o Operário – que coincidentemente é o time de coração do pai de Felipe, o que rende brincadeiras em casa e até a recusa de um presente provocador: a camisa do rival.
“O Estadual é a nossa vitrine, é nele que temos que nos projetar, buscar dentro do futebol reconhecimento e até ir para outros mercados. Somos novos e estamos aqui buscando isso, o nosso espaço no mundo da bola”, frisa o lateral.
Esse será o segundo ano do campo-grandense pelo profissional do Comercial, já tendo jogado o Estadual do ano passado. “Sem dúvida o apoio que o Governo de Mato Grosso do Sul oferece possibilita que o campeonato seja organizado e a gente consiga ainda sonhar em seguir jogando. É o principal incentivo ao nosso futebol”, destaca.
Para a temporada 2023, Fundesporte (Fundação do Desporte e Lazer de Mato Grosso do Sul) fechou um valor de R$ 1.014.490 de apoio ao Estadual, dinheiro usado para custeio de viagens, pagamento da arbitragem e aquisição de material esportivo dos 10 clubes participantes do torneio. O repasse é feito à Federação de Futebol.
“Joguei a Copinha [Copa São Paulo de Juniores] neste ano e já fui campeão pela base do Almirante Barroso, de Santa Catarina. Já passei pelo Nacional-SP, pelo Santos, e comecei aqui no Cene. Sei que tudo tem seu tempo, o tempo de Deus, e agora sei que chego com mais bagagem agora”, comenta Mohr sobre sua expectativa neste ano.
Longe de casa, uma oportunidade
Mais de 1,3 mil quilômetros e 17 horas de estrada. Essa é a distância que Virlan topou ficar da família para buscar a oportunidade no futebol. De Florianópolis, capital catarinense, ele encontrou na base comercialina a chance que procurava.
Após a disputa do Estadual Sub-20 no ano passado e da Copinha neste ano, o zagueiro de pele clara e cabelo loiro, de corpo esguio, conta com a ajuda da família de Felipe, que oferece a casa para ele morar enquanto está em Campo Grande.
“É uma experiência nova em minha vida para eu conseguir meu primeiro ano como jogador profissional. Quero fazer um bom campeonato e aqui começar uma boa carreira, quero ser reconhecido e ganhar títulos, jogar fora do Brasil e ajudar a minha família”, diz.
Virlan encara tudo como um aprendizado, conhecendo novas pessoas e uma nova cultura, aprendendo também a encarar a saudade. “A gente sente falta, mas acostuma. Não é de hoje que estou longe de casa”, destaca o jovem com recém completos 20 anos.