PCC corrompe funcionários em aeroportos de Portugal, diz polícia local

Considerado uma das principais portas de entrada de drogas da Europa, Portugal também enfrenta o esquema de aliciamento de funcionários de aeroportos montado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para atravessar o Atlântico com malas recheadas de cocaína em voos internacionais.

Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o diretor da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária de Portugal (Uncte), Artur Vaz, afirma que tem trabalhado em cooperação com a Polícia Federal (PF) para combater o intercâmbio criminoso mantido pela facção paulista com traficantes de drogas europeus.

“A Europa está sendo inundada de cocaína da América Latina. Na Europa, (a droga) tem um valor elevado, então, é um mercado que é atrativo para os traficantes, que fazem muito dinheiro. E, de fato, ela chega muito por via aérea”, afirma Vaz.

As investigações mostram que criminosos recebem dinheiro, em euro, para aliciar funcionários dos aeroportos em Lisboa, capital portuguesa, e na cidade do Porto, as quais estão entre os principais destinos das drogas que saem da América Latina para o continente europeu.

O levantamento da Uncte mostra ainda que os profissionais corrompidos mantêm contato somente com seus aliciadores, para dificultar qualquer vazamento de informações que poderiam ajudar a polícia a chegar até o andar de cima da cadeia de comando do tráfico internacional.

“Essa situação nos preocupa. O que existe são funcionários corruptos nos aeroportos do Brasil e de Portugal. É certo que os funcionários daqui, normalmente por regra, não têm conhecimento de quem são as pessoas de dentro da rede, do grupo criminoso [que as contratam]. São funcionários que são recrutados para fazer aquele serviço em específico”, explica Vaz.

Intercâmbio

Como o Metrópoles mostrou no último fim de semana, há pelo menos oito anos o PCC opera um esquema de envio de drogas para a Europa em bagagens despachadas no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A facção paga o equivalente a um ano de salário para funcionários da área restrita trocarem malas de passageiros pelas bagagens com cocaína, driblando a fiscalização.

Quando as bagagens com drogas chegam até Portugal, os funcionários corrompidos já sabem quais malas devem procurar. Para isso, recebem fotos das bagagens, enviadas por mensagens de celular. Eles procuram se antecipar aos profissionais que não foram aliciados, de acordo com a polícia europeia, retirando as malas das aeronaves, levando-as para “um local seguro”, longe da fiscalização, e retirando-as do aeroporto.

“Isso é muito difícil de controlar. Porque essas pessoas conhecem o aeroporto como a palma de suas mãos. E o trabalho da polícia é sempre muito difícil, mesmo com vigilância com câmeras. Apesar disso, estamos junto com a Polícia Federal do Brasil e prendemos bastante gente envolvida nessas situações”, afirma o diretor da polícia portuguesa.

Com a droga fora do aeroporto, já nas mãos dos criminosos, o pagamento pelo serviço é feito. A polícia portuguesa identificou que os aliciadores podem ser membros do PCC, ou ainda pessoas que mantêm contatos comerciais ilícitos com a facção paulista.

Pagamento

O aliciador recebe cerca de 5 mil euros (R$ 27 mil) por cada quilo de droga que passa pela fiscalização nos aeroportos de Portugal. Em média, chegam 20 quilos de cocaína por bagagem, rendendo somente ao recrutador o equivalente a 100 mil euros (R$ 540 mil) por mala com a droga. O aliciador usa parte desse dinheiro para corromper os funcionários, geralmente os que recebem salários mais baixos, da mesma forma como ocorre no Brasil.

Para monitorar e combater a expansão do poderio das organizações criminosas, as polícias brasileira e portuguesa mantêm um acordo de cooperação. “Há grupos de policiais federais [brasileiros] em Lisboa, não só para investigar o tráfico de drogas, mas parte significativa deles se empenha para isso. Notamos muitos brasileiros vindo para Portugal e eles estão envolvidos com o tráfico de drogas”, afirma o diretor.

Fonte: Metrópoles