Depois de disparada nos preços, vendas de arroz estacionam e sobra estoque

Após ver um salto nas vendas no Brasil, nas exportações e, claro, nos preços em 2020, o arroz, o grande “vilão” da inflação naquele ano, vive agora uma situação bem diferente.

Os preços altos encontraram em 2021 uma população com a renda em queda, enquanto os compradores de fora reduziram os pedidos.

O resultado é que as vendas do produto caíram, e está sobrando arroz nos estoques dos produtores.

Em dezembro do ano passado, os estoques do arroz estavam cerca de 35% maiores do que em dezembro de 2020, de acordo com informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq, escola de agricultura da Universidade de São Paulo.

“No mercado interno, a renda da população diminui e atrapalhou as vendas de forma geral”, diz Lucilio Alves, pesquisador responsável pela equipe de arroz do Cepea.

Ele também explica que há um efeito de normalização da pandemia: se, em 2020, as pessoas ficaram e comeram mais em casa, o que estimulou o consumo do arroz em larga escala, a volta da circulação e das refeições fora em 2021 ajudaram a diversificar mais os pratos novamente.

Ao mesmo tempo, importantes países exportadores do grão, como Índia e Indonésia, voltaram a abastecer o mundo depois de suspender parte das exportações na pandemia, o que voltou a aumentar a concorrência para o arroz brasileiro lá fora.

“A indústria compra, mas não consegue repassar os custos para o atacado e o varejo, de maneira que as margens dos produtores estão bem ruins. Quem se beneficia são os consumidores”, diz Alves.

Alta de 76%, queda de 16%

O represamento nas vendas e os estoques parados ajudaram os preços a caírem bastante. Nos supermercados, o arroz – que chegou a passar dos R$ 35 em 2020, no caso dos pacotes de 5 quilos – ficou 16% mais barato em 2021, de acordo com os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Entre os produtores, no campo, a queda foi ainda maior, de 33% no ano passado, aponta o Cepea.

Nem em um caso nem no outro, porém, os reajustes foram suficientes para zerar toda a alta do ano anterior, e quem quiser comprar arroz ainda está pagando bem mais do que no começo de 2020, antes de a pandemia começar.

O preço do pacote de arroz tinha subido 76% em 2020 nos supermercados, e ainda está 46% acima do nível pré-pandemia. No campo, a alta de 2020 na cotação das sacas foi de quase 100%, e o valor cobrado ainda segue 30% acima do que custava antes.

Vai ficar barato de novo?

Quanto a 2022, Alves, do Cepea, diz que é difícil imaginar que os valores caiam mais do que isso, inclusive porque os custos de cultivo dos produtores também subiram muito na pandemia.

“Subiu o custo dos fertilizantes, dos defensivos, além de o arroz usar bastante energia e irrigação, o que também encareceu muito”, diz o pesquisador.

Isto, de acordo com ele, já faz com que o custo de plantar o arroz, hoje, esteja ultrapassando a receita que os produtores conseguem com as vendas.

“Os preços do arroz não pararam de cair desde outubro de 2020, mas deram uma estabilizada nos últimos meses, indicando que não tem mais espaço para o produtor reduzi-los, com a pressão dos custos.”

O dólar persistentemente alto, acrescenta Alves, também deve continuar colaborando para impedir quedas maiores, já que, com o mercado interno fraco, os produtores contam com a possibilidade de reaquecer as exportações em 2022 para ajudar a desovar os estoques parados.