Cidades sul-mato-grossenses na fronteira do Brasil com o Paraguai que lideram índices de violência também enfrentam falta de saúde e de educação.
Com baixa arrecadação de impostos e dependência de repasses federais, essas cidades são o retrato do abandono encontrado nos 1.300 km da Linha Internacional entre Mato Grosso do Sul e a nação paraguaia.
Até a repetência escolar é maior nessas cidades, segundo levantamento inédito feito pelo Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras). Paranhos, Coronel Sapucaia e Porto Murtinho estão entre as mais afetadas pelos reflexos da violência fronteiriça.
Em Porto Murtinho, cidade a 431 km de Campo Grande, a taxa de reprovação do ensino médio chega a 31%, mais do que o dobro do índice médio brasileiro de 11,90%.
Cidade de 12.500 habitantes e localizada a 469 km da Capital, Paranhos tem índice de homicídios de 109,7, quase quatro vezes a média nacional (27,85 mortes para cada cem mil habitantes).
Segundo o Idesf, o número de mortes por armas de fogo no município é de 58,51, quase três vezes a incidência de 20,31 registrada no país.
Nem autoridade política escapa do chumbo. No dia 14 de junho deste ano, o pistoleiro Gabriel Queiroz, 26, acertou quatro tiros no prefeito Dirceu Bettoni (PSDB), supostamente a mando de um contrabandista de cigarro. Bettoni está afastado do cargo, ainda se recuperando dos ferimentos.
O estudo – Elaborado com base em indicadores oficiais, o Diagnóstico do Desenvolvimento das Cidades Gêmeas do Brasil traz uma radiografia das áreas limítrofes com os países vizinhos.
O conceito “cidades gêmeas” leva em conta municípios situados na linha de fronteira, seca ou fluvial, integrados ou não por obras de infraestrutura, os quais apresentam grande potencial de integração econômica e cultural.
São 32 cidades brasileiras nessa condição, na fronteira com nove estados.
De acordo com o Idesf, de Mato Grosso do Sul foram incluídas no estudo as cidades gêmeas Bela Vista, Coronel Sapucaia, Corumbá, Mundo Novo, Paranhos, Ponta Porã e Porto Murtinho.
“A análise dos quatro eixos de desenvolvimento – educação, saúde, economia e segurança pública – demonstrou em números que realidade nessas regiões é bem mais dura do que a média nacional”, afirma o instituto, que tem sede em Foz do Iguaçu (PR).
Homicídios e suicídios – Os municípios sul-mato-grossenses apresentam índices mais graves em vários indicadores. Os números de homicídios e mortes por armas de fogo são os mais altos dentro do universo pesquisado.
O número de suicídios também é o maior encontrado na região fronteiriça, chegando a 29,25 para cada cem mil habitantes em Paranhos e 20,64, em Bela Vista. A média nacional é de 5,13.
O índice de internações hospitalares chega a 99,2 a cada mil habitantes em Mundo Novo, quase o dobro da média brasileira de 51,3.
“Há uma correlação desses números, sendo que os dados de violência indicam que toda uma condição social que teria que vir antes – de educação, de saúde e de crescimento econômico – é falha, gerando esses indicadores preocupantes”, afirma Luciano Stremel Barros, presidente do Idesf.
Dependência – Nos municípios de MS pesquisados, a administração municipal tem um grau de dependência acima de 70% de verbas federais e estaduais, o que indica baixos índices de arrecadação.
Em Coronel Sapucaia, 90,27% dos recursos municipais são originados dessas transferências.
A falta de perspectiva econômica dessas regiões é apontada como fator para muitos jovens ingressarem em atividades ilícitas.
“O resultado vem em cadeia: evasão escolar, altos índices de violência, inclusive no trânsito, que reflete incidência de acidentes gerados em situações de contrabando”, avalia Barros.
Conforme o Idesf, também é de Coronel Sapucaia o maior índice de acidentes no trânsito, de 46,93, para uma média 16,93 entre as cidades gêmeas brasileiras.
O diagnóstico das fronteiras foi enviado pelo Instituto para todos os candidatos à presidência da República.
“O objetivo é que o estudo seja utilizado como ferramenta para que governos e entidades civis proponham políticas públicas de desenvolvimento para essas regiões esquecidas”, afirmou Luciano Barros.
Fonte: Campo Grande News