Pix e pagamentos digitais | Será o fim do dinheiro?

O uso do dinheiro em notas e moedas vem paulatinamente perdendo espaço no hábito dos brasileiros, enquanto meios de pagamento eletrônicos, como cartões, aplicativos e carteiras digitais, ganham espaço rápido.

De 2020 para cá, com os choques de comportamento causados pela pandemia e também o advento do Pix, o sistema de transferências instantâneas que passou a funcionar em novembro do ano passado, essa migração do pagamento físico para o digital ficou ainda mais rápida.

Não significa, porém, que o fim do dinheiro em papel está próximo. É ele ainda o meio de pagamento mais usado e mais unânime – quer dizer, é o único que virtualmente todo brasileiro usa, enquanto barreiras de infraestrutura, renda ou comportamento ainda impedem a universalização dos demais.

“A digitalização dos serviços financeiros é um caminho sem volta, mas ainda vai longe o dia em que substituirá o dinheiro em espécie”, disse Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, de pesquisas sobre comportamento e consumo.

“Durante a pandemia, a fim de receber o auxílio ou manter seu negócio, uma parcela dos brasileiros mais pobres se digitalizou na marra. Mas o uso do dinheiro vivo ainda é muito forte para eles. Ainda representa praticidade, controle de gastos, ausência de taxas e a possibilidade de negociar preços no comércio local.”

Preferido, mas em queda

Um estudo de junho feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Sebrae, mostrou que o dinheiro na mão ainda é o meio com maior alcance entre as pessoas: 71% dos entrevistados responderam que costumam fazer pagamentos com o papel, enquanto 70,5% já afirmavam usar o Pix.

São proporções bem maiores que o uso de cartão de débito (mencionado por 66%) e de crédito (57%), das plataformas virtuais, como PagSeguro ou PayPal (32%) e do pagamento com QR codes no celular (18%).

“A pandemia acelerou os processos de inovação tecnológica e a população está cada vez mais habituada a utilizar novos meios de pagamentos”, disse o presidente da CNDL, José César da Costa.

“Mas também vemos que, nas negociações nas lojas físicas, o consumidor ainda prefere o uso dos cartões e também do dinheiro.”

Um estudo do Banco Central sobre a relação dos brasileiros com o dinheiro mostrou que, em 2018, ainda eram as notas físicas a forma de pagamento mais recebida por estabelecimentos comerciais – 52% do total de operações. A participação, porém, está em queda: em 2013, era 57%.

Já os pagamentos com cartão de débito, os que mais avançaram, saíram de 4% das vendas feitas em 2013 para 15% em 2018.

Acompanhando a mesma tendência, o país também viu em 2020 a desativação recorde de caixas eletrônicos e chegou à menor rede desses terminais de saque desde pelo menos 2011, de acordo com as estatísticas anuais de instrumentos de pagamento do Banco Central.

Em 2020, o país perdeu 7.441 ATMs – os terminais de autoatendimento para saques –, e encerrou o ano com 164 mil deles espalhados pelo país. É uma rede 4% menor que em 2019 e 11% menos que em 2014, quando o total de caixas eletrônicos no país atingiu o pico.