Os tumores de ovário são difíceis de rastrear e têm alta taxa de letalidade. As estatísticas mundiais dão conta que 70% das pacientes recebem o diagnóstico quando o câncer já está avançado e mais da metade delas morre em decorrência da doença.
Por conta disso, nos últimos anos, tem aumentado o número de recomendações médicas para a realização de cirurgias profiláticas de retirada das trompas de falópio – estruturas do aparelho reprodutivo feminino que fazem a conexão entre os ovários e o útero.
O procedimento é chamado de salpingectomia preventiva e é pouco invasivo: pode ser feito por cirurgia laparoscópica, robótica ou aberta. A retirada das trompas não traz impactos hormonais às mulheres, como ocorre quando é realizada a retirada dos ovários. mas a operação, entretanto, compromete a capacidade reprodutiva da paciente.
“O câncer de ovário é um dos mais ocultos porque os métodos de diagnóstico disponíveis são falhos. É por isso que a possibilidade de realizar uma cirurgia preventiva, desde que a mulher não queira ter filhos, vem ganhando força”, explica Andrade.
Genes BRCA 1 e BRCA 2
Atualmente, já existe consenso das entidades médicas para a realização da cirurgia de retirada das trompas, também chamadas de tubas uterinas, em pacientes portadoras de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 que tenham passado do período reprodutivo.
De acordo com as pesquisas disponíveis, as chances das mulheres desse grupo apresentarem câncer de ovário, bem como de mama, são bem maiores que as da população em geral. Estima-se que 44% das mulheres que herdam mutações no BRCA1 e 17% das que têm mutações no BRCA2 desenvolverão câncer de ovário até os 80 anos.
Recentemente, a Aliança para Pesquisa em Câncer de Ovário, dos Estados Unidos, passou a defender que qualquer mulher fora da idade reprodutiva e que já esteja se preparando para uma cirurgia pélvica considere a possibilidade de retirar as trompas.
“O efeito dessa recomendação é levar informação à paciente e fazer com que ela converse com o médico sobre a possibilidade de prevenir um câncer de rastreamento difícil”, explica o oncologista Romualdo Barroso, líder de Pesquisa em Oncologia do grupo DASA.
Decisão individual
Barroso destaca o intervalo entre os 40 e os 50 anos como o mais indicado para a realização da cirurgia de remoção das tubas, uma vez que as pacientes já teriam passado do pico do período reprodutivo e ainda não teriam entrado na menopausa.
“O câncer de ovário é mais frequente na menopausa. A cirurgia anteciparia a prevenção sem que houvesse prejuízo hormonal para as pacientes”, destaca Barroso.
O oncologista Gustavo Fernandes, diretor clínico da Oncologia Dasa, lembra da importância de um diálogo franco entre paciente e médico quando o assunto envolve procedimentos cirúrgicos de prevenção.
“Em casos de mutações do BRCA1 e 2, a recomendação para cirurgia é muito forte. Nos demais casos, a decisão é mais íntima. O aconselhamento médico se restringe a analisar o histórico familiar da mulher e sua condição de saúde. No mais, é uma decisão de vontade, algo do foro íntimo da paciente”, afirma Fernandes.
Fonte: Metrópoles