O treinador Abel Ferreira desvalorizou a necessidade de terminar a sua passagem pelo Palmeiras, quando confrontado sobre um eventual convite para dirigir as seleções portuguesa ou brasileira de futebol a partir do próximo ano civil.
Depois de levar o Palmeiras ao seu 11.ª título de campeão brasileiro, Abel Ferreira tem sido um dos nomes associados à sucessão de Fernando Santos, que deixou a formação das quinas a seguir à derrota com Marrocos (0-1) nos quartos de final do Mundial2022.
“É um orgulho ser português. Quando és emigrante, ainda mais o sentes. Agora, volto a referir que a minha realidade é o Palmeiras. Renovámos (contrato) logo no início do ano (até 2024) e estamos num clube que nos proporciona todas as condições”, enquadrou o treinador, de 44 anos, que arrebatou seis cetros com o “verdão” desde outubro de 2020.
Fernando Santos esteve oito anos no cargo de selecionador nacional e concedeu os dois primeiros e únicos troféus internacionais no patamar sénior a Portugal, ao conquistar o Euro2016 e a Liga das Nações de 2019, por entre 67 vitórias, 23 empates e 19 derrotas.
“Portugal tem treinadores de muita qualidade e experiência, que ganharam muito mais do que eu. Tem, porventura, treinadores desempregados e disponíveis. A minha realidade é esta. O que digo às pessoas que têm de tomar decisões é boa sorte. Todos os dias tomo decisões e não é nada fácil tomar boas decisões. Quem tiver de tomar a decisão, que a tome de consciência e escolha a pessoa certa”, apelou Abel Ferreira, cujo nome também tem sido falado na imprensa para render Tite à frente do pentacampeão mundial Brasil.
As explicações que o livro dá
O técnico apresentou na tarde de quarta-feira o livro “Cabeça Fria, Coração Quente”, no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, para onde irão reverter todas as receitas obtidas na venda de uma obra que até “dizia de caras ser impossível escrever algum dia”.
“Decidimos escrever este livro no Brasil por dois motivos: agradecer as oportunidades que esse país nos deu e partilhar as nossas experiências na primeira pessoa com quem gosta do futebol. É algo muito pessoal, sentido e vivido. Há um sentimento de orgulho e gratidão”, expressou, ao lado do adjunto Vítor Castanheira e do observador Tiago Costa.
A obra também inclui os contributos do treinador auxiliar Carlos Martinho e do preparador físico João Martins para ilustrar desafios enfrentados pela equipa técnica portuguesa no futebol brasileiro e revelar detalhes inéditos na preparação e análise de 16 jogos-chave.
“Tem de haver equilíbrio entre o que é racional e emocional. Depois, o futebol tem esta particularidade de acelerar muito o lado emocional quando o árbitro apita. A vida foi-me ensinando, porque cometi erros e acertei, e vais percebendo que, quando estás com a cabeça fria e o coração quente ao mesmo nível e de forma equilibrada, acabas sempre por tomar melhores decisões e ajudar, inspirar e influenciar aqueles que lideras”, notou.
Abel Ferreira está nomeado pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) para melhor treinador de clubes em 2022, no ocaso de um ano marcado pelos sucessos inéditos nos campeonatos brasileiro e paulista e na Taça sul-americana.
“Gesto de levar os dedos à cabeça presente na capa do livro? É um gesto inconsciente, mas que se tornou uma imagem de marca. Lembro-me de pedir calma num jogo em que estávamos a perder, porque era o que precisávamos. Depois, acabámos por passar a eliminatória. Acho que foi um gesto muito bem vincado, mas é algo que procuro também utilizar para mim”, terminou o vencedor das edições 2020 e 2021 da Taça Libertadores.