O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quarta-feira, dia 24 de abril, que “ninguém explicou o que é a nova política ainda” e criticou a associação que se faz do Parlamento com a “velha política”.
“É toma lá dá cá quando o Parlamento olha para o governo, mas não é toma lá dá cá quando o governo quer escolher o relator da reforma da Previdência?”, questionou Maia em entrevista à Central GloboNews.
Ele criticou a visão de que, “quando [a influência] é na Câmara, não tem problema nenhum”. “Quando é no governo, é velha política?”, afirmou o presidente da Casa.
“O governo tem o interesse de influenciar na escolha do relator e é legítimo”, disse Maia. “E quem tem uma agenda convergente do governo quer governar junto. Não tem nada errado nisso”.
Para o presidente da Câmara, é preciso “tomar cuidado para não ficar olhando o parlamentar sempre como vilão”. “O que é velho e o que é novo? Ninguém me explicou ainda o que é novo. Eu sei o que é certo e o que é errado”.
Agenda de governo
Maia afirmou que não se pode criminalizar todo tipo de indicação política no governo. “Não pode transformar a participação de um partido no governo em um crime, que não é”, afirmou o presidente da Câmara, citando como exemplo o número de militares no governo.
“Outro dia eu fui no Comando Militar e não tem mais general. Eles estão todos no governo”, brincou. “Isso não é velha ou nova política. Eles são quadros de grande qualidade. Agora, por que é que um político não pode ser um quadro de grande qualidade e participar do governo?”.
Para Maia, não se pode “transformar todo tipo de diálogo, todo tipo de articulação, em um problema, em um crime”. “É claro que tem crime, que tem nomeação dolosa, nomeação em troca de favor”, ressaltou. “Mas essa não pode ser a regra e nem pode ser a preocupação do governo.”
O presidente da Câmara afirmou que “o governo precisa compreender qual é a agenda dele”. “Qual é a agenda do governo? Eu pergunto qual é a agenda do governo para a Educação? Eu não sei qual é até o momento. Ninguém sabe. Qual é a agenda do governo nas Relações internacionais? É um desastre.”
Ao questionar a ausência de um programa, Maia citou o exemplo do seu partido, que tem vários ministros no governo Bolsonaro. “O DEM tem três políticos nomeados e não faz parte do governo. Por quê? Por que a gente não sabe ainda qual é essa agenda do governo para que a gente possa ter clareza de dizer ‘quero fazer parte’.”
Nova política
Durante a entrevista, Maia deu a sua opinião do que é a nova política. “A nova politica é a que o Brasil tenha um sistema democrático muito parecido com as grandes democracias, em que o poder do Parlamento seja um poder efetivo.”
Ele citou os Estados Unidos, em que uma comissão mista, formada por parlamentares da Câmara e do Senado, decide e empenha o orçamento do governo americano. “Quem sabe um dia a gente consiga dar esse poder ao Parlamento brasileiro.”
Reforma da Previdência
Rodrigo Maia disse ter certeza que a reforma da Previdência será aprovada na Câmara, mas evitou fazer uma projeção de qual será a economia (o projeto enviado pelo governo prevê uma economia de R$ 1,16 trilhão em dez anos).
Ele afirmou também que as mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada) e na aposentadoria rural não devem ser aprovadas e que considera que será muito difícil criar o regime de capitalização, pretendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Capitalização vai ter de explicar muito bem. O custo de capitalização também é muito alto, R$ 400 bilhões em dez anos”, afirmou Maia. “Qual modelo é esse? Capitalização pura? Chance zero de passar.”
O presidente da Câmara disse que hoje tem mais gente a favor da reforma, “mas ainda não é a maioria”. E afirmou que “o governo foi omisso no começo” da tramitação, mas tem conversado constantemente com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. “As coisas estão caminhando. As coisas estão melhorando”.
Relação com Bolsonaro
Maia foi questionado sobre a sua relação com o presidente e se ela é melhor ou pior do que já foi no passado, quando ambos eram deputados. “Pior. Não é uma boa relação que eu tenho com ele. Mas para mim não é importante”, afirmou.
O presidente da Câmara também disse não ter intimidade com Bolsonaro, mas ressaltou que isso não vai afetar a tramitação da Previdência e de outros projetos na Câmara.
“Ele vai poder contar comigo na Previdência e em outras reformas”.
Impeachment de Mourão
Questionado sobre o arquivamento do pedido de impeachment feito contra o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, Maia afirmou que “a Câmara não quer participar desse conflito”.
“O que eu entendi sobre esse caso de hoje é que há um conflito dentro do governo, que é explícito. Não tem ninguém escondendo. E a Câmara não quer participar desse conflito”, afirmou o presidente da Câmara. “Eu deixar um pedido de impeachment que não tem base legal parado na minha gaveta pode sinalizar que eu quero fazer parte dessa troca de tiro.”
Maia afirmou que “essa briga não é minha” e que não era “interessante manter, na minha gaveta, o pedido de impedimento”. “Achei por bem indeferir e sinalizar: olha, se vocês têm conflitos – que eu acho que é um conflito ruim, porque é o Presidente do Brasil ou o seu entorno e o vice-presidente –, a Câmara não quer participar desse conflito. Esse assunto na Câmara está encerrado.”