O acaso sempre privilegiou Samuel

Natural de Rio Verde, em Goiás, Samuel Rezende Freitas foi para Rio Brilhante em 1984 em função de seu emprego na época. Mas daí surgiu uma vaga para oficial de justiça da comarca. A indicação para ocupar o posto veio de um amigo que era segurança do juiz, hoje Desembargador Paschoal Carmello Leandro. Ele marcou uma entrevista com o magistrado e foi aceito, sendo contratado para o cargo em 26 de fevereiro de 1985. O ofício foi aprendendo na prática, com a ajuda do colega de profissão e também com a literatura jurídica e a contribuição dos advogados.

Atuou como contratado por 2 anos, até a oportunidade do concurso público para oficial de justiça em 1987. Ele então reuniu os livros jurídicos e as provas anteriores e se dedicou aos estudos. “Até uma máquina de escrever eu levei para casa”. E todo o esforço deu resultado: foi aprovado em 1º lugar.

Depois que passou no concurso fez faculdade de Ciências Contábeis e ainda se formou em Direito pela Unigran de Dourados, em 1999. Chegou a passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, mas resolveu não arriscar e continuou na carreira pública. Contudo, a formação na área lhe ajudou muito no exercício da função. Samuel passou a ser mais respeitado pelos advogados, uma vez que tinha mais propriedade e conhecimento na área para resolver as situações.

Das diversas histórias que soma ao longo dos 36 anos de TJMS, ele recorda de um caso lá pelos idos de 1988 de um roubo numa fazenda da região, onde o suspeito levou uma caminhonete carregada de armamentos e foi preso em Barra do Bugres, interior do Mato Grosso, cerca de 1.000 km distante de Rio Brilhante. Samuel ficou incumbido de acompanhar o delegado e mais um policial que trariam o preso até a comarca.

E eles foram de avião. A ida foi tranquila, conta ele. Já na volta, escureceu e a aeronave não tinha instrumentos para voo noturno. Então eles tiveram que pernoitar em Santo Antônio do Leverger, ainda no Mato Grosso. No aeroporto em que pousaram tinha uma espécie de alojamento e  dormiram por lá mesmo, com o preso algemado na cama. “Tivemos que ficar ali, meio improvisados. Era uma situação tensa, mas chega uma hora que todo mundo dorme. Eu dormi e acredito que o preso também”. No outro dia seguiram viagem e conseguiram concluir a missão.

Sua região tem ainda muitos casos de conflitos e invasão de terra. Foram muitas vezes que precisou se dirigir a assentamentos com a ordem de desocupação. “Primeiro eu ia para ler a sentença e informar o prazo que tinham para cumprir a ordem. Eu sempre era recebido com muito barulho, batiam latas e faziam um certo alvoroço. O barulho era para chamar os demais para me rodearem numa certa forma de coação, mas eu cumpria meu dever. Depois, na data de desocupação era ainda mais tumultuado. Algumas famílias deixavam o local, mas outras permaneciam lá quando chegávamos com reforço policial. Em certas ocasiões, vinha até ônibus com policiais de Dourados e os donos da terra nos acompanhavam com caminhões e maquinários para cumprir a desocupação”.

Embora vivendo diversos momentos de tensão, Samuel conseguiu se sair bem de todas as situações conflituosas. “Eu acredito que para ser oficial de justiça precisamos ter bastante controle emocional”. Tanto para enfrentar situações como as ordens de desocupação, como outras em que seu serviço o exigiu passar por situações mais delicadas.

“No juizado de pequenas causas temos diversas situações complicadas, como uma vez em que tive que entrar numa residência para levar o aparelho de televisão e duas crianças da casa estavam  assistindo desenho. Mas era a determinação, eu precisava levar o aparelho para o credor”, recorda o constrangimento.

Como a cidade é pequena, muitas vezes ele precisou abordar pessoas conhecidas. “Se eram amigos muito próximos, de frequentar a minha casa, eu pedia para transferir a ordem para um colega. Mas eu jogava futebol, então tinha muitos conhecidos. Mas eu sempre separei muito bem as coisas e até explicava para as pessoas. Você pode não gostar de quem eu sou, mas a ordem judicial você precisa cumprir”.

E foi cumprindo mandados no presídio que conheceu sua atual esposa. Ambos eram divorciados. Ela servidora da Agepen que atuava na época como diretora do presídio feminino. No ambiente profissional nada aconteceu. Mas certo dia eles se cruzaram num posto de gasolina. “Eu estava abastecendo, ela também e conversamos. Ela estava indo para um almoço na casa do sobrinho em Nova Alvorada do Sul e me convidou para ir junto. E eu fui e fui muito bem aceito pela família dela e estamos juntos desde então. Isso já tem 8 anos. Mas quando eu ia até o presídio dela eu a cumprimentava profissionalmente como ‘dona Vera’. Depois ela reclamava para mim do porquê de tanta formalidade, não gostava que eu a chamasse de ‘dona’”.

O trabalho que rendeu um encontro de amor passou por mudanças. “A população está mais esclarecida, o que facilita na hora do trabalho. Até mesmo pessoas simples já estão mais cientes de seus direitos”, observa Samuel com felicidade.

E assim ele segue sua rotina já prestes a se aposentar e acredita que o destino o levou até Rio Brilhante. “Se não fosse pela empresa que estava com uma empreitada no município, nunca teria chegado até a cidade, onde logo após terminar a obra, estaria sem emprego. Eis que surgiu a vaga, a ponte com a ajuda do meu amigo e lá fui eu. Era meu destino”.

Autor da notícia: Secretaria de Comunicação – imprensa@tjms.jus.br