O dólar abriu esta quarta-feira, 27, em forte alta, numa reação tanto à cena política doméstica quanto à cautela no exterior.
Lá fora, a moeda americana avança perante todas as principais moedas emergentes, e o investidor busca ativos considerados mais seguros, como o iene e as T-Notes americanas.
Por aqui, os agentes econômicos assimilam a aprovação, na noite desta terça-feira, 26, na Câmara dos Deputados, de um limite ainda maior para os gastos discricionários do Poder Executivo. A notícia pesa por contradizer o que defende o ministro da Economia, Paulo Guedes, e também pelas circunstâncias em que foi aprovada. Teve o aval de 440 deputados, que em menos de duas horas propuseram a votação e aprovaram a Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Agora, os deputados querem votar uma proposta que limita a edição de medidas provisórias pelo presidente.
O revés de terça-feira à noite remete à reflexão sobre o tamanho do eventual exagero de otimismo que parlamentares e agentes econômicos tiveram, no início do ano, ao acreditar na aprovação da PEC da Previdência pelos deputados até abril.
Também impele à avaliação sobre a habilidade em lidar com os congressistas do presidente Jair Bolsonaro, que foi deputado federal por sete mandatos. Há quem já questione a afirmação do ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em 4 de fevereiro: “Bolsonaro esteve aqui no Legislativo por 28 anos; conhece como poucos o Congresso”.
No mercado de câmbio, os agentes também assimilam o anúncio do Banco Central do fim da tarde desta terça de que realizará leilão de linha de até US$ 3 bilhões que vencerão na virada do mês. Segundo o operador da H.Commcor Cleber Alessie Machado Neto, a rolagem era esperada no mercado, mas não de forma unânime.
Na agenda do dia, a atenção seguirá em Brasília. Onyx encontra-se com líderes do Senado, para onde foi a PEC que corta o poder de decisão dos gastos pelo Executivo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também irá ao Senado, depois de desmarcar em cima da hora a audiência de terça na CCJ da Câmara, onde a PEC da Previdência será avaliada em 17 de abril.
No exterior, a queda dos juros dos Treasuries e do Bund alemão, que ajuda a derrubar as bolsas europeias e os índices futuros dos mercados acionários de Nova York, retroalimenta o apetite por ativos considerados mais seguros. A cautela conduz os negócios desde cedo e foi confirmada com a realização de leilão de Bunds (títulos alemães) de dez anos com yield negativo. É a primeira vez que isso acontece desde outubro de 2016.
No início da manhã, a FGV divulgou que a confiança dos empresários do setor da construção caiu 2,5 pontos em março, a maior queda desde junho de 2018. Mesmo movimento teve a confiança do consumidor, que recuou 5,1 pontos em março ante fevereiro, na série com ajuste sazonal, para o menor nível desde outubro de 2018. É a segunda queda seguida, perdendo 5,6 pontos, após quatro meses consecutivos de avanço.
Nesse contexto interno e externo, o dólar à vista abriu em alta firme e acima dos R$ 3,90. Na máxima, marcou R$ 3,9274. Na mínima, chegou aos R$ 3,9084 em alta de 1,06% às 9h20. Perto desse horário, o Dollar Index (DXY) subia 0,18% aos 96,906 pontos.