Organizadora do evento diz que os idosos foram unânimes na escola de votar, após saberem da notícia do 2° turno. Ela então precisou negociar mudanças na viagem.
As malas já estavam quase prontas, com a viagem marcada para o dia 28 de outubro, quando os idosos acompanhavam o resultado das eleições. Por volta das 19h48 (de MS), veio a notícia: haveria 2° turno. O grupo, no WhatsApp, então começou a ser bombardeado com perguntas e afirmações de quem, em sua maioria, nem possui mais obrigação de votar. “E agora, não vamos mais votar?”. “Eu não quero deixar de votar”. “Vamos ter que mudar a data da viagem”.
“Eles pagaram a viagem parcelada, começaram no início do ano. Nossa intenção era começar a programação em um hotel 4 estrelas no domingo. No entanto, vamos passar o dia todo na estrada e chegar no início da madrugada de segunda. Quando saiu o resultado do segundo turno, eles começaram a falar lá no grupo, então a única coisa que pensei era pegar a lista dos nomes e ligar um a um fazendo a pesquisa”, afirmou ao G1 a organizadora do evento Viva a Vida, Raquel Priscila Rissett.
No início, como são dois ônibus que sairão de Campo Grande no próximo domingo (28), Raquel acreditou que metade preferiria sair antes, como estava previsto. “Não teve jeito não, eles bateram o pé, dizendo que possuíam compromisso com o país e então só me restou ligar no hotel e negociar as diárias. Como dia 2 já é alta temporada, eles não nos deram este dia. No entanto, o que consegui foi um lanche a mais para o grupo quando chegarmos e ainda um almoço, antes da nossa partida no dia 1° de novembro”, explicou Rissett.
A professora aposentada Mirian Dulce, de 74 anos, diz que todos foram unânimes em votar antes de viajar. “Todos apoiaram e todos aceitaram a mudança da viagem. Muitos, inclusive, pensaram até em desistir da viagem se não fosse possível votar”. E a assistente social aposentada, Ada Lúcia Ferreira, de 64 anos, complementa: “O momento é de mudança. Se temos esperança e podemos contribuir de alguma forma, penso que precisamos dar este exemplo para os nossos filhos. O Brasil precisa mudar”.
Amigas contam que decisão em mudar viagem para votar foi unânime no grupo — Foto: Graziela Rezende/G1 MS
Já a professora Anete Barbosa Martins, de 66 anos, comenta que está seguindo os ensinamentos do pai. “Eu sou de uma família que valoriza a eleição. Meu pai, aos 92 anos, estava votando e dando entrevistas em jornais como um exemplo a ser seguido”. A amiga dela, a advogada aposentada Mirna Adri, de 64 anos, também fala sobre a necessidade do voto. “Quando marcamos a viagem, ninguém imaginava 2° turno. Agora precisamos fazer a nossa parte”, ressaltou.
O casal Mário e Neides Correa Araújo, de 66 e 71 anos, respectivamente, fala que o momento é de “não negligenciar”. “Não tenho obrigação pela idade, mais o Brasil é meu também e preciso cuidar dele. Nunca houve uma situação tão díficil e somos patriotas, não podemos deixar este momento de lado. Temos o nosso candidato e vamos votar”, argumentou.
Casal diz também ser dono do Brasil e, por isso, precisam cuidar dele e exercer o voto — Foto: Graziela Rezende/G1 MS
Conforme a organizadora, o grupo Viva a Vida possui integrantes somente da 3ª idade. “É um encontro semanal, com palestras e estudo bíblico. Recentemente, recebemos o comentarista político da TV Morena e outros que também falaram sobre cidadania e a importância do voto. Como eles possuíam o costume de dizer no meu tempo era assim, meu tempo já passou…nós passamos a reforçar que o tempo deles é hoje sim, já que eles ainda possuem a eternidade”, explicou Raquel.
No ano anterior, eles fizeram uma viagem para Lagoa Santa (MG). “Neste ano, teremos o dia livre e cada grupo de 4 a 6 pessoas terá um monitor. Todo mundo também ficará de camiseta pra ninguém se perder. Depois, teremos a noite dos talentos, a noite do preto e branco, amigo oculto das antigas com troca de cartinhas e o devocional, entre outros eventos”, falou.
Grupo vai sair com camisetas azuis, para ninguém se perder durante a viagem — Foto: Graziela Rezende/G1 MS
A assistente administrativo Kesia Cavalcante Soares Amaral Bonfim, de 44 anos, que conhece alguns integrantes do grupo, disse que a atitude deles é admirável. “Eles vão perder uma diária de hotel para exercer o voto. Achei um compromisso patriota, não abriram mão do direita e o mais bonito é que partiu deles, ficaram incomodados. É um exemplo”, finalizou.